Da equipe do Correio
Gustavo Moreno/Especial para o CB |
Notebooks, cartões e cédulas de reais foram encontrados pela polícia numa casa de jogos eletrônicos |
Os seis anos que Marcelo Gustavo Soares de Souza, 30 anos, passou na cadeia pelo envolvimento na morte do universitário João Cláudio Leal (leia Memória) serviram também para aprender a clonar cartões de crédito e cheques. O criminoso, que pegou 12 anos pelo homicídio cometido em 2000, teve aulas de clonagem com um amigo de cela durante o regime fechado. Ele cumpria pena em prisão domiciliar havia oito meses. Mas, ontem, voltou novamente ao Complexo Penitenciário da Papuda depois de praticar o crime de falsificação de cartões de crédito e débito durante três meses. Segundo a polícia, Marcelo teve um lucro de R$ 70 mil durante esse período.
Esse, aliás, não foi o único crime que Marcelo cometeu após sair da prisão. O assassino de João Cláudio também responderá por roubo. Os cartões de crédito originais, clonados por ele, foram roubados de carteiros dos Correios e Telégrafos no momento em que os funcionários entregavam as encomendas nas residências dos correntistas.
Denúncias
Na terça-feira, a polícia recebeu denúncia de assaltos a carteiros em Taguatinga e Ceilândia. Os bandidos roubavam sempre encomendas que continham cartões de crédito e cheques. A partir da comunicação, equipes da Delegacia de Repressão a Furtos (DRF) passaram a investigar as duas regiões. Um informante acabou delatando Marcelo aos investigadores. Ele foi preso por volta das 13h30 de ontem numa via pública da QNO 19 de Ceilândia.
A polícia encontrou dois notebooks com informações sobre os cartões roubados e um aparelho chamado magnetizador, para confeccionar os clones dos cartões, numa lan house que pertence ao criminoso. Marcelo explicou à polícia que recebeu o equipamento de alguém que responde pelo apelido de Cearense. Ele teria conhecido o criminoso dentro da cadeia. Os dois dividiam o lucro do crime. O homem, porém, ainda não foi identificado.
Diferentemente de outros criminosos do ramo, que filmam senhas núméricas e alfabéticas dos correntistas durante o saque, Marcelo usava um outro método para aplicar o golpe. Ele passava os cartões e os cheques numa padaria da QSE 9 de Taguatinga Sul. Lá, para nenhum das duas ordens de pagamento necessitava de senha.
Devolução
O filho do dono do estabelecimento Rodrigo Ferreira Alves, 20 anos, fazia parte do esquema. Os saques e compras eram sempre de R$ 500 e R$ 1 mil. “Rodrigo recebia 25% de toda a arrecadação feita durante a semana. O acerto ocorria sempre no final da semana”, afirma o delegado-adjunto da DRF, Luiz Henrique Sampaio. Ele se apresentou ontem à tarde à DRF e também foi preso.
Rodrigo devolveu R$ 5 mil que arrecadou com o golpe. Marcelo foi indiciado por furto mediante fraude e uso de documento falso. A pena para esse tipo de crime varia de três a 14 anos. Depois que foi posto em liberdade para cumprir o restante da pena em regime prisão domiciliar, no ano passado, Marcelo se envolveu em outros casos de agressão. Ele responde a inquérito policial por ameaça contra a ex-sogra e agressão contra a atual namorada, que não teve o nome revelado.
Memória Um crime que chocou a cidade O universitário João Cláudio Cardoso Leal morreu no dia 9 de agosto de 2000 depois de ter sido espancado com socos e pontapés por Marcelo Gustavo Soares de Souza, na época com 26 anos, e José Quirino Alves Júnior, 28. O crime ocorreu na porta da boate Music Hall, na 114 Sul. Marcelo e Quirino só se entregaram à polícia no dia 15 de setembro do mesmo ano. Para isso, foi feito acordo com a polícia que concordaria em deixá-los em cela especial. Vinte dias depois, a juíza Leila Cury, do Tribunal do Júri de Brasília, desclassificou o crime de homicídio qualificado para lesão corporal seguida de morte, cuja pena varia de quatro a 12 anos para cada acusado. Somente Marcelo pegou pena máxima. Quirino foi condenado a oito anos de cadeia por ter participado do crime. A mãe do estudante assassinado, Silvana Maria Cardoso Leal, ficou desapontada com a Justiça. Ela pede mais rigor nas leis aplicadas em crimes contra a vida. “Ele nunca deveria ter saído da prisão”, observou. “A impunidade é tão grande que aconteceu o que aconteceu agora. Isso serve de aviso para que as leis sejam revistas”, cobrou Silvana. (AF) |
Subeditores: Ana Paixão, Roberto Fonseca, Valéria Velasco
e-mail: cidades@correioweb.com.br
Tels. 3214-1180 • 3214-1181