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A luta de Lucas Alexandre
Diagnosticado com leucemia, o garoto de 5 anos aguarda um doador compatível de medula óssea para voltar à escola e brincar no parquinho. A família usa as redes sociais para conseguir ajuda
» ADRIANA BERNARDES
Publicação: 11/07/2015 04:00
No quarto de Lucas Alexandre, 5 anos, os planetas estão ao alcance das mãos e dos olhos. Ali, não é preciso telescópio para admirar Vênus, Netuno ou Saturno. As estrelas também estão sempre por perto. Como quase toda criança da idade dele, o menino adora as brincadeiras no computador. O desenho preferido é o da Peppa. E, na hora de matar a fome, nada melhor do que farofa de ovos, bife e macarrão. Mas, diferentemente das outras crianças, Lucas Alexandre não desce para brincar no pilotis com outras crianças e está afastado da escola. Os almoços e os passeios no shopping também estão temporariamente suspensos. Restrições imprescindíveis para que ele siga com o tratamento contra a leucemia. Há cerca de dois meses, o garoto entrou na fila de transplante de medula óssea, única chance de ele voltar a ter uma vida saudável.
A descoberta da doença foi há cerca de 2 anos, quando a mãe percebeu manchas roxas pelo corpo, acompanhadas de febre. Na emergência, o médico pediu um exame de sangue. O resultado revelou que as plaquetas de Lucas Alexandre estavam muito baixas: 24 mil, quando o normal é acima de 140 mil. A taxa de leucócitos, normalmente, fica em até 10 mil. Mas a dele estava em 45 mil. “No mesmo dia, ele foi para a UTI porque não tinha defesa imunológica nenhuma e corria sério risco de hemorragia. O diagnóstico foi confirmado após a biópsia da medula óssea. Ele tem leucemia linfoide aguda (LLA), a mais comum em crianças e a que apresenta chance de 70% a 80% de cura (em criança) só com quimioterapia”, conta a mãe do menino, a professora Fabíola Gomes, 37 anos.
O garoto sorridente é fã do desenho animado Peppa e adora joguinhos de computador, distrações que se restrigem a ambientes fechados: até que consiga um doador, as brincadeiras na rua e no shopping seguem suspensas (Arquivo pessoal )
O garoto sorridente é fã do desenho animado Peppa e adora joguinhos de computador, distrações que se restrigem a ambientes fechados: até que consiga um doador, as brincadeiras na rua e no shopping seguem suspensas
As sessões de quimioterapia terminaram em novembro do ano passado, e a família estava confiante na recuperação de Lucas Alexandre. Ele voltou a ter uma vida normal: passou a frequentar festinhas, almoçava em restaurantes e até foi para a escola. Mas, em maio, em uma consulta de rotina, o médico percebeu que um testículo estava menor que o outro. “Ele teve uma recaída. Os exames mostraram que as células cancerígenas estavam novamente na medula, além de se alojarem no testículo. Foi um choque pra toda a família”, relembra a mãe.
Cristiane e o marido, o servidor público Ricardo Alexandre Pinheiro de Oliveira, 40, partiram para São Paulo e ouviram dos médicos que a indicação para Lucas era o transplante de medula óssea. Isso porque ele teve uma recaída precoce e combinada (medula e testículos). Lucas Alexandre voltou a fazer os ciclos de quimioterapia e também está mais recluso. Não pode correr o risco de adoecer. Quando não restar nenhuma célula doente em seu organismo, ele estará pronto para se submeter ao transplante. Até lá, precisa encontrar um doador que seja 100% compatível. Em uma rede social, a família pede ajuda e divulga campanhas de outras pessoas na mesma situação.
Solidariedade
A chance de encontrar um doador compatível é de uma em 100 mil (leia Para saber mais). Hoje, faz 93 dias que Michel Maruyama, 32, se submeteu a um transplante de medula. A história dele foi contata e acompanhada pelo Correio Braziliense. Ontem, a irmã de Michel, a publicitária Cristiane Maruyama, 31, estava em Curitiba para visitá-lo. “Ele ainda está no período de isolamento, que dura 100 dias. As visitas são restritas. Ele só se alimenta de comida fresca e preparada em casa. Toda semana tem consulta médica. E os exames apontam que 100% do sangue que corre em suas veias tem o DNA do doador. “Isso revela que o transplante foi um sucesso”, comemora Cristiane.
Com o olhar de quem enfrentou tudo ao lado do irmão e agradece o sucesso do transplante graças a um anônimo que se dispôs a doar a medula, Cristiane agradece: “Quando se descobre que a vida da pessoa que você ama depende de um transplante, é um baque. Quando se descobre que, na família, não há nenhum doador compatível é muito difícil. Uma das coisas mais bonitas nisso tudo, além da força do Michel, foi perceber que as pessoas são capazes desse ato de solidariedade. Isso faz você recuperar a fé na humanidade”.
Michel e a família não sabem quem salvou a vida dele. Isso porque o cadastro mantém sigilo tanto de quem doa quanto de quem recebe. Se daqui a 2 anos as duas partes concordarem, eles poderão se encontrar. “Só espero um dia conhecer essa pessoa e poder agradecer”, completa Cristiane.
Quanto mais rápido Lucas Alexandre conseguir um doador compatível, maiores são as chances de recuperação dele. E logo ele voltará a ter uma vida semelhante à de qualquer outra criança de 5 anos: repleta de festinhas, amigos da escola e joelhos ralados pelas brincadeiras nos parquinhos.
“Ele teve uma recaída. Os exames mostraram que as células cancerígenas estavam novamente na medula, além de se alojarem no testículo. Foi um choque pra toda a família”
Fabíola Gomes, mãe do menino, com o pai, Ricardo Alexandre
Para saber mais
Gesto que salva vidas
Para ser doador de medula óssea, basta se dirigir ao Hemocentro de Brasília, retirar uma pequena quantidade de sangue para análise e fornecer os dados gerais. Caso seja compatível com alguém que precise, o Hemocentro entra em contato. No procedimento médico, é retirada uma quantidade de medula do osso ilíaco da bacia, que contém células jovens capazes de produzir os três componentes do sangue. Em seguida, o líquido é injetado na circulação venosa do paciente. O procedimento é feito com anestesia e, em 15 dias, o doador está completamente recuperado.
Onde se informar
Hemocentro de Brasília
Setor Médico Hospitalar Norte,
Quadra 3, Conjunto A, Bloco 3, Asa Norte
Informações: 160 (opção 2) ou 3327-4424